quinta-feira, 1 de setembro de 2011

DIVREI-HAYAMIM ALEF; BET (CRÔNICAS 1 E 2).

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:




CRÔNICAS







INTRODUÇÃO





Visão geral

Autor: Desconhecido.

Propósito: Orientar a restauração do reino depois do exílio, enfatizando especialmente a unidade de Israel, o rei, o templo e as bênçãos e maldições imediatas.

Data: c. 520-400 a.C.

Verdades fundamentais:

O povo de Yaohu tem nos reinos unidos de Davi e Salomão o modelo sobre como buscar as bênçãos divinas.

O destino de cada geração de Israel era determinado pela sua fidelidade aos ideais de Yaohu quanto à monarquia, ao templo e à unidade do seu povo.

As gerações futuras do povo de Yaohu devem aprender, por meio da história de Israel, as prioridades e os padrões de fidelidade esperados delas.





Propósito e características

A princípio, o livro de Crônicas não possuía um título. Seu nome hebraico tradicional pode ser traduzido como “os anais (acontecimentos do dias [tempos])”. Essa expressão aparece com freqüência no livro de Reis com certas especificações (p. ex., 1Rs 14,29). Também ocorre dessa maneira em outras passagens, porém sem especificações (Ne 12,23; Et 2,23; 6,1). Alguns textos da Septuaginta (a tradução grega do AT) se referem a Crônicas como “as coisas omitidas”; isto é, um complemento da história de Samuel e Reis. Jerônimo (e Lutero; segundo o seu exemplo) chamou o livro de “a crônica de toda a história sagrada”. Nosso título moderno tem origem nessa tradição.









CRISTO EM 1 e 2 CRÔNICAS.

Ao se concentrar no seu interesse pelo povo de Yaohu, pelo rei e pelo templo, bem como pela bênção e pelo julgamento divino, o cronista redigiu a sua história visando estimular a esperança de Israel na vinda do Messias. Seu foco imediato é a restauração da comunidade pós-exílio, mas o Novo Testamento revela que o Ideal do reino restaurado expressado pelo cronista se cumpriu em Cristo.

A esperança do cronista para o povo de Yaohu se realizou em Cristo. Aqueles que seguem a Cristo são os herdeiros das promessas feitas a Israel (Gl 3,14.29; 4,28; Ef 2,11-22; 3,6), como também o eram os fiéis da comunidade pós-exílio. A igreja de Cristo se estende além de Israel de modo a incluir os gentios (Lc 2,32; At 9,15; 11,1.18). Na volta de Cristo, todos os eleitos serão reunidos sob a Eternidade de Cristo (Ef 2,11-22).

O interesse do cronista pela restauração do trono de Davi também se cumpriu em Cristo. Ele é o Filho de Davi, o herdeiro legítimo do trono davídico (Lc 1,32; Rm 1,3; Ap 22,16). O SALVADOR cumpriu todos os requisitos de obediência impostos à linhagem de Davi (Rm 5,19; Fp 2,8; Hb 5,7-10). Na ressurreição, Cristo se assentou no seu trono celestial (At 2,33-35; Ef 1,20-23; Fp 2,9; Ap 3,21). Ele conduz o seu povo à bênção e à vitória (Rm 8,37; Ef 4,7-13) e reinará até que todos os seus inimigos tenham sido derrotados (1Co 15,24-26).

A ênfase do cronista sobre o templo também se cumpriu em Cristo. Ele se entregou na cruz como expiação perfeita pelo pecado (Hb 9,11-28; 1Pe 3,18a; 1Jo 2,2), e intercede pelo seu povo no átrio celestial de Yaohu (Hb 3,1; 4,14-16; 6,20; 7,16; 8,1). Quando Cristo voltar, levará todo o seu povo à presença santa de Yaohu (Jo 14,1-4; 1Ts 4,16-17).

O enfoque do cronista sobre a bênção e o julgamento divino também antevê a obra de Cristo. O SALVADOR advertiu a sua Igreja acerca da necessidade de fidelidade a Yaohu (Mt 5,17-20). Ele sofreu a morte na cruz para que o seu povo pudesse ser livrado do julgamento (Rm 3,21-26). Ele lhes concede nova vida para que tenham certeza da recompensa da bênção eterna (Jo 3,16; 2Pe 3,13; 1Jo 2,25).

O cronista escreveu para encorajar seus leitores pós-exílio a renovarem o reino em sua época. No entanto, a sua história também aponta para o futuro, para o início do reino da primeira vinda de Cristo e sua consumação gloriosa quando ele voltar.







CRÔNICAS: Os dois livros de Crônicas trazem, na Bíblia hebraica, um título que se poderia traduzir por Palavras (ou Atos) dos dias, isto é: livro dos atos diários referentes a uma história ou ainda, segundo São Jerônimo: Crônicas de toda a história divina, nome que se perpetuaria sob a forma de livros das Crônicas. Segundo a tradução grega, o nome, longamente conservado na tradição da Igreja, foi: Paralipômenos, palavra grega que significa: coisas deixadas de lado, ou ainda: coisas transmitidas à parte, termo aplicável ao conteúdo destes livros, considerados como complementos aos livros de Samuel e dos Reis. Com efeito, veremos que os relatos dos livros das Crônicas retomam em grande parte os relatos dos livros de Samuel e dos Reis, com outros elementos complementares, numa perspectiva histórica e teológica diferente.

A divisão em dois livros é artificial, visto que não existe corte entre eles. Em sua origem, constituem um único livro, da mesma forma que os dois livros de Esdras e de Neemias. Aliás, este conjunto Crônicas-Esdras-Neemias forma um todo, como mostram os últimos versículos das Crônicas (2Cr 36,22-23), reproduzidos textualmente nos primeiros versículos de Esdras (1,1-3). Em conseqüência de circunstâncias desconhecidas, o lugar desses livros foi modificado no cânon da Bíblia hebraica, no qual as Crônicas são os últimos da coletânea, depois de Esdras-Neemias, quando na realidade deveriam precede-los. É possível que os livros das Crônicas tenham sido recebidos no cânon judaico depois de Esdras-Neemias, porque repetiam Samuel-Reis. A ordem lógica foi restabelecida nas versões antigas e com freqüência também nas traduções modernas.





Plano. Os livros das Crônicas constituem um vasto panorama histórico que remonta à criação da humanidade e que se prolonga até o séc. V a.C., depois da volta do exílio da Babilônia. É a mais longa seqüência historiográfica da Bíblia, dado que o relato histórico contido nos livros que vão do Deuteronômio ao final dos livros dos Reis (freqüentemente chamado: história deuteronomista) só cobre o período cujo ponto de partida é a conquista de Canaã, e o ponto de chegada, o exílio de Babilônia.

O conteúdo desta história é dividido em quatro seções:

1) 1Cr 1 – 9: Listas genealógicas desde Adão até David, passando pelas 12 tribos de Israel. Algumas destas listas se prolongam até depois da época de David.

2) 1Cr 10 – 29: Reinado de David, desde a morte de Saul até a morte de David.

3) 2Cr 1 – 9: Reinado de Salomão.

4) 2Cr 10 – 36: História do reino de Judá, desde a morte de Salomão até o exílio da Babilônia, pouco antes da época do retorno a Jerusalém. A continuação deste relato, referente ao retorno e à restauração do judaísmo depois do Exílio, encontra-se nos livros de Esdras e Neemias.



Autor e data. Geralmente atribui-se o conjunto Crônicas-Esdras-Neemias a um mesmo autor, cujo nome é desconhecido e que é chamado o Cronista. A opinião que vê nesses livros a obra de vários autores não é seguida, e as diferenças que aparecem na composição das várias partes desta obra explicam-se naturalmente pela maneira como o autor utiliza os elementos diversificados que lhe serviram de fontes.

A data da redação final da obra é delimitada pelos acontecimentos que aí se narram. A atividade de Esdras e Neemias situa-se essencialmente no séc. IV a.C. (ver a Introdução aos livros de Esdras e Neemias). Por isso não é possível fazer a redação remontar a uma época anterior a meados do séc. IV, ou seja, 350-330 a.C.

Por outro lado, não parece que se possa descer a uma época muito posterior da história do judaísmo, como seja o período em que os judeus conheceram as provas da perseguição e da guerra, sob os Macabeus, no século II a.C. Parece mais indicado situar a obra do Cronista no período relativamente calmo e tranqüilo que precede o tempo das provações, ou seja, entre 330 e 250 a.C. Ainda que existam algumas adições redacionais de data ulterior à obra do Cronista, parece difícil atribuir ao conjunto dos livros uma data mais recente do que 200 a.C., embora nenhum indício preciso permita chegar com certeza a uma conclusão mais satisfatória.





Composição e método de redação. Se ignoramos o autor das Crônicas e a data precisa da conclusão de sua obra, conhecemos bem a maneira pela qual ele realizou seu trabalho de redação e de composição literária. Este é o único livro do Antigo Testamento que mostra claramente a maneira pela qual foi composto.

Na realidade, o autor não redigiu um relato que lhe tivesse sido inspirado por seus conhecimentos da história antiga do seu povo. Ele reproduz fielmente certo número de documentos que tem diante de si, reordenando-os às vezes em função do objetivo de sua obra e modificando-os de acordo com outros documentos que conhece ou de acordo com a idéia que tinha da história e de seu significado. Além disso, toma o cuidado – o que era raro em sua época – de citar suas fontes, dando-nos assim informações preciosas, ainda que incompletas e por vezes difíceis de precisar.

Ele menciona:

- O livro dos reis de Judá e de Israel (2Cr 16,11).

- O livro dos reis de Israel (1Cr 9,1).

- Os atos dos reis de Israel (2Cr 33,18).

- O comentário (ou midrash) ao livro dos Reis (2Cr 24,27).

- Os anais do rei David (1Cr 27,24).

- As palavras (ou atos) do vidente Samuel (1Cr 29,29), do profeta Natan (1Cr 29,29), do vidente Gad (1Cr 29,29), do profeta Shemaiá e do vidente Idô (2Cr 12,15), de Iehu, filho de Hanani (2Cr 20,34), de Hozai (2cr 33,19).

- A profecia de Ahiá de Shilô (2Cr 9,29).

- A visão do vidente Iedô (2Cr 9,29), do profeta Isaías, filho de Amôs (2Cr 32,32). {No livro, “Amós”, está escrito com acento “circunflexo” ok. Anselmo}.

- Um documento escrito do profeta Isaías, filho de Amôs (2Cr 26,22).

É provável que vários destes títulos designem documentos idênticos, com algumas variantes na formulação de seus títulos. Apesar da variedade de opiniões dos comentadores, é possível identificar pelo menos três grupos de documentos de que o Cronista se serviu; antes de mais nada, os livros de Samuel e dos Reis, dos quais às vezes reproduz textualmente relatos inteiros; em seguida, outro documento histórico, hoje perdido, que continha elementos que o Cronista utilizou para completar os livros anteriores (talvez seja aquele designado com o termo midrash ou comentário ao livro dos Reis); por fim, um grupo de documentos que contêm diversas tradições proféticas, que o Cronista menciona de maneira pouco precisa, e que provêm ou dos livros de Samuel e dos Reis (tradições sobre Samuel), os dos livros proféticos (Isaías), ou de outras fontes que hoje desconhecemos.

A todos estes materiais, que constituem o essencial dos relatos, é mister acrescentar outros elementos utilizados pelo Cronista sem indicação de origem e sem referências precisas. Em geral, são textos que provêm de outros livros do Antigo Testamento, que o autor conhecia muito bem e aos quais freqüentemente se reportava. Suas listas genealógicas são tiradas, em grande parte, dos dados da mesma natureza fornecidos pelo Gênesis, Êxodo, Números, Josué, Rute. Há capítulos que reproduzem total ou parcialmente textos litúrgicos tirados do Saltério (1Cr cita os Salmos 105; 96; 106).

Levando em consideração a contribuição pessoal do Cronista a sua obra, pois não se trata de simples compilação de documentos anteriores, e admitindo, como é possível, que algumas adições mais tardias tenham sido juntadas à obra já acabada, constata-se que os livros das crônicas representam, na literatura bíblica, a única obra em que se pode analisar tão de perto a composição e o método de redação.

Que método? Sem entrar em detalhes dos relatos, mas estabelecendo uma comparação geral entre os livros de Samuel e Reis e os livros das Crônicas, é possível explicitar alguns princípios diretores seguidos pelo Cronista na composição da obra. Em primeiro lugar, ele procedeu por eliminação, conservando de suas fontes apenas o que queria narrar, de acordo com a idéia que fazia de sua obra. A história do reinado de David e de sua dinastia foi para ele a verdadeira história do povo de Yaohu e de seus destinos. Conseqüentemente, tudo o que se referia à história do reino de Israel depois do cisma não lhe interessava; relegou ao silêncio toda esta parte e só narrou a história do reino de Judá e de sua capital, Jerusalém. De modo análogo, deixou de lado certo número de acontecimentos e fatos que não lhe pareciam muito importantes para evidenciar a glória dos reinados de David e de Salomão, ou que lhes fossem desfavoráveis (o adultério de David, a revolta de Absalão, o luxo e a idolatria do fim do reinado de Salomão). Tal método explica, em parte, as lacunas que não se pode deixar de constatar nesta obra histórica (não se alude ao exílio de Babilônia; períodos bastante longos da história entre o Exílio e a restauração de Esdras e Neemias – mais de um século – não mencionados).

Vem o seguir a tarefa de adaptação que o Cronista levou a cabo, utilizando materiais que lhe serviam de fontes. Em razão quer de sua falta de interesse pela cronologia exata, quer das opiniões teológicas que o guiaram em seu relato, apresentou os fatos como o faria uma testemunha que os apresentasse à luz de sua própria personalidade e de sua época.

As desgraças dos reis e dos povos são sempre explicadas por uma desobediência a Yaohu; pelo contrário, as bênçãos concedidas por Yaohu são sempre fruto do zelo e da fidelidade dos personagens com relação ao Templo e ao culto. As modificações de ordem cronológica são sempre difíceis de explicar, mas parecem obedecer a razões mais teológicas do que históricas (particularmente nos livros de Esdras e Neemias). Pode-se falar das Crônicas, como à vezes se faz, como escritos “tendenciosos”? Isto equivaleria a fazer um julgamento pejorativo e injusto do autor, que se preocupou mais em apresentar uma “teologia da história” do que em fazer uma exposição histórica objetiva e completa. Sua obra é menos a de um historiador, em sentido moderno, e mais a de um crente ou teólogo que vê na história o testemunho da ação permanente de Deus e a imagem, certamente ainda imperfeita, mas real, do Reino de Deus - Yaohu.

Por fim, o método de composição comporta um trabalho destinado a completar os dados fornecidos pelas fontes principais, isto é, os livros de Samuel e dos Reis. Graças a outros documentos, a tradições escritas, ou mesmo orais, o Cronista dá detalhes complementares sobre certos aspectos da história do povo que não se encontram nos outros livros do cânon bíblico e que, desta forma, são muito preciosos para um melhor conhecimento dessa história. Mesmo se algumas passagens de seu texto exprimem suas reflexões pessoais e sua concepção das coisas, o mesmo não se pode dizer de numerosos pormenores que não podem ser obra de sua imaginação criadora, mas que ele encontrou em fontes que não mais conhecemos.

Além disso, podemos saber como ele tratava suas fontes, comparando as passagens de sua obra com seus paralelos em Samuel-Reis. Embora certos retoques teológicos ou literários sejam perceptíveis aqui e ali as variantes geralmente são de ordem ocidental: o Cronista conheceu o texto hebraico de Samuel-Reis num estado mais antigo que nosso texto atual, e tanto Samuel-Reis como as Crônicas sofreram inevitáveis falhas de copistas. A comparação desses textos em seu estado presente nos dá preciosas informações sobre os acidentes de transmissão possíveis nos outros livros da Bíblia. Ela nos mostra, ao mesmo tempo, que o Cronista geralmente copiava de suas fontes com grande fidelidade. Mas orientava o conjunto do relato por meio de hábeis incisões ou por judiciosos empréstimos a outras fontes complementares.

Em última análise, o método de composição literária do Cronista está estreitamente ligado à sua concepção da história e às suas convicções teológicas que expomos a seguir.





Teologia do autor das Crônicas. A análise do conteúdo dos dois livros das Crônicas permite explicitar e sublinhar os aspectos teológicos mais importantes desta obra, ainda que não se possa pretender conhecer a teologia do Cronista em sua totalidade.

Há uma evidência que se impõe logo de saída: a importância davídica. Tudo o que antecedeu a história de David é reduzido a um conjunto de listas genealógicas que retrocedem até Adão (caps. 1 – 9). E a ligação com David se faz apenas por um breve capítulo (cap. 10) sobre a morte de Saul, cuja realeza foi rejeitada por Yaohu em benefício da de David. Todo o fim do primeiro livro é consagrado a esta (caps. 11 – 29). Mas, se comparam estes relatos, com outros paralelos dos livros de Samuel e dos Reis, não se pode deixar de constatar as diferenças. Tudo o que se refere à infância, à juventude e aos anos da vida errante de David em conflito com Saul é deixado de lado, da mesma forma que seus sete anos e meio de reinado sobre Judá em Hebron, enquanto as outras tribos de Israel conheciam o reinado movimentado de um filho de Saul, Ishbôshet. Além disso, todos os acontecimentos à corte do rei, o comportamento do próprio rei no caso de Bat-Sheba, mulher de Uriá, as rivalidades de seus filhos por causa de sua sucessão, a revolta de Absalão, em resumo de tudo aquilo que dá aos caps. 9 – 23 de 2Sm o caráter vivo e realista de um relato sobre a vida de uma corte real oriental não se encontra nas Crônicas. Sem dúvida, a figura do rei David continua muito humana, mas idealizada. Tudo contribui para mostrar nele o rei segundo a vontade de Yaohu, o rei que permanecerá à testa de uma dinastia sem fim, sobretudo o rei que consagrou sua vida a fazer de Jerusalém uma capital e uma Cidade Santa e o preparar, até nos mínimos detalhes, a construção do Templo e a organização do culto, que doravante será ali celebrado. Às vezes, chegou-se a estabelecer uma espécie de paralelos entre a figura de Moisés na tradição “sacerdotal” do Pentateuco e a de David nas Crônicas. Com efeito, há certa semelhança entre estes dois homens que são apresentados – em épocas muito diferentes – como chefes e legisladores do povo, em Nome de YAOHU.

Na seqüência dos relatos, o rei Salomão aparece como uma figura idealizada, a exemplo de David. A seu respeito, nada se conserva de desfavorável, nem a eliminação brutal de seus rivais no início de seu reinado, nem o luxo, a idolatria e a vida dissoluta da corte real no fim de seu reinado. Salomão é o rei que construiu o Templo seguindo as indicações e os preparativos minuciosos de seu pai, David. A dedicação do Templo assume uma solenidade e amplidão que não se encontra no livro dos Reis.

O Templo e o culto estão no centro das preocupações do Cronista, e pode-se até perguntar se o principal objetivo de sua obra não é precisamente o de apresentar uma história do Templo de Jerusalém, a Cidade santa, e do culto que aí deve ser celebrado. Nas genealogias do início, as listas referentes à Judá e Benjamin são as mais desenvolvidas; é que são as da família de David e do território de Jerusalém. A história dos sucessores de David e Salomão está centrada no Templo, e os desenvolvimentos mais importantes são os que se referem aos reis cuja maior preocupação foi a de restaurar o Templo ou reformar o culto: Asá (2Cr 14 – 16), Josafat (caps. 17 – 20), e sobretudo Ezequias (caps. 29 – 32) e Josias (caps. 34 – 35). Logo depois da volta do Exílio, encontra-se a mesma preocupação que aparece nos livros de Esdras e Neemias: restauração do altar sobre as ruínas do Templo (Ed 3), reconstrução do Templo (Ed 4 – 6), da Cidade Santa (Ne 1 – 4) e restauração do culto (Ne 8 – 9).

Da mesma forma, o Cronista cerca de especial predileção os ministros do culto, todos membros da tribo de Levi, sejam eles sacerdotes, descendentes de Aarão, sejam levitas, descendentes de outros clãs da mesma tribo. Enquanto todo o Pentateuco mencionava os sacerdotes 27 vezes, alcançam-se o recorde de 53 vezes para Esdras-

-Neemias e de 76 vezes para as Crônicas. Aplicando o que se estabelece em Lv 1,5 e em Nm 10,8, são os sacerdotes os encarregados de fazer soar as trombetas (1Cr 15,24; 2Cr 13,12) e de verter sobre o altar o sangue das vítimas imoladas (2Cr 30,16). Mas os levitas não são simples empregados subalternos: Transportam a arca, são porteiros e guardiões do Templo, desempenham as funções de cantores e músicos; em certas circunstâncias, chegam a participar, juntamente com os sacerdotes, da preparação (não da oferenda) dos sacrifícios (2Cr 29,34; 30,16-17).

As cerimônias exprimem, nos relatos que as expõem, acentos de alegria, louvor e reconhecimento, e isto se faz supor que o próprio Cronista pode ter sido um levita ou tenha querido restabelecer suas funções às vezes depreciadas.

Outra hipótese a considerar: O autor das Crônicas teria querido, com sua obra, enfatizar a legitimidade exclusiva do Templo e do culto em Jerusalém diante das tentativas feitas por alguns de estabelecer outros santuários e justificar outras cerimônias cultuais no passado, mas também na época do Cronista. Seu relato teria uma perspectiva polêmica, particularmente contra os samaritanos ou os que estiveram na origem deste cisma, cuja data exata é ignorada. Assim se explicaria o silêncio sistemático do Cronista sobre toda a história do reino de Israel depois do Cisma que se seguiu à morte de Salomão. Só o reino de Judá, com a dinastia davídica era legítimo; e os soberanos do reino do Norte, com Samaria, sua capital, e suas cerimônias cultuais contaminados pelo culto dos baalim, eram cismáticos, que não podiam pretender representar o verdadeiro povo de Yaohu. Por estas mesmas razões se explicariam também os conflitos, no tempo de Esdras e Neemias, como o “povo da terra”, que queria ajudar na reconstrução de Jerusalém e que foi impedido pelos descendentes dos exilados, os quais se consideravam os verdadeiros representantes do povo de Yaohu (Ed 4; Ne 2,19-20; 4; 6).

Estes diferentes aspectos da obra do Cronista conduzem, do ponto de vista teológico, a uma visão sintética que bem pode ser expressa pelo termo teocracia. Para o autor, a história do povo de Yaohu, na comunidade judaica em que ele vive, é como que a imagem ideal do reino teocrático estabelecido por Yaohu, à testa do qual foi posto David. Na realidade, Yaohu é o único rei verdadeiro, e David assenta-se no trono de Yaohu. Através da realidade terrestre da história passada, o Cronista descreve o reino de Yaohu tal como podia ser representado na sua época: o culto no Templo único de Jerusalém, a Cidade Santa, exprimia a fidelidade, o júbilo, o louvor do povo a seu Rei, sobretudo graças aos sacerdotes e aos levitas; a obediência à Lei de Yaohu era a primeira obrigação do povo na vida diária; a relação constante entre Yaohu e seu povo traduzem-se por uma noção de retribuição levada ao grau mais absoluto. A justiça de Yaohu quer que toda fidelidade – sobre tudo da parte dos reis no trono de Jerusalém – receba sua bênção, mas também que toda falta e toda desobediência, particularmente no que se refere ao Templo e ao culto, acarretem a punição divina. Doutrina não rigorosa aparece ao longo de toda a história dos reis, sucessor de David, e enquanto os livros dos Reis nada dizem dos motivos da felicidade ou desgraça do povo, os livros das Crônicas se esforçam por dar uma justificação teológica segundo sua noção de justiça retributiva de Yaohu. Se Manasses gozou de um longo reinado, apesar das suas faltas, é porque se arrependeu e porque, voltando a Yaohu, purificou dos seus ídolos o Templo (2Cr 33). Se, pelo contrário, Josias, apesar de sua grande fidelidade, encontrou uma morte prematura, é porque se opusera à vontade de Yaohu por ocasião da passagem dos exércitos egípcios que iam combater na Assíria (2Cr 35).

Ao contrário da literatura apocalíptica, que projeta para o futuro uma imagem da realidade terrestre para anunciar o que será o reino de Yaohu, a obra do Cronista idealiza o passado para mostrar o que deve ser a vida do povo no presente. Assim a realeza teocrática da época de David deve lembrar constantemente aos judeus contemporâneos do autor o que devem ser a celebração de seu culto, a obediência à Lei de Yaohu e a esperança na justa retribuição divina.

Talvez seja por causa dessa perspectiva teológica voltada preferentemente para o passado que a obra do Cronista não está apoiada numa esperança messiânica explicitamente formulada. As perspectivas de futuro não prendem muito sua atenção. Meditando sobre a história passada, o Cronista parece querer fornecer ao presente uma lição de fidelidade a Yaohu, à sua Lei e ao seu Culto.







VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE CRÔNICAS (2Cr):





ROBOÃO

Pontos fortes e êxitos:

O quarto e último rei de Israel, após o reino se dividir, governou Judá.

Fortaleceu seu reino e alcançou uma certa popularidade.





Fraquezas e erros:

Seguiu conselhos insensatos, o que levou à divisão do reino.

Casou-se com mulheres estrangeiras, como fez seu pai, Salomão.

Abandonou a adoração a Yaohu e permitiu que a idolatria se estabelecesse.





Lições de vida:

Decisões impensadas freqüentemente nos levam a trocar o que é mais valioso por algo de valor muito menor.

Toda escolha que fazemos tem conseqüências reais e duradouras.





Informações essenciais:

Local: Jerusalém.

Ocupação: Rei de Israel; mais tarde, do Reino do Sul, Judá.

Familiares: Pai – Salomão; mãe – Naamá; filho – Abias; esposa – Maaca.

Contemporâneos: Jeroboão, Sisaque e Semaías.







Versículo-chave: “Sucedeu, pois, que, havendo Roboão confirmado o reino e havendo-se fortalecido, deixou a lei do ETERNO, e, com ele, todo o Israel” (2Cr 12,1).







A história de Roboão é contada em 1 Reis 11,43 – 14,31 e 2 Crônicas 9,31 – 13,7. Ele também é mencionado em Mateus 1,7.







ASA

Pontos fortes e êxitos:

Obedeceu a Yaohu durante os primeiros dez anos de seu reinado.

Empreendeu um esforço para abolir a idolatria.

Depôs sua avó idólatra, Maaca.

Derrotou o poderoso exército da Etiópia.





Fraquezas e erros:

Respondeu com ira quando confrontado sobre seu pecado.

Fez alianças com nações estrangeiras e pessoas ímpias.





Lições de vida:

Yaohu não só consolida o bem. Ele confronta o mal.

Os esforços para seguir os planos e as regras de Yaohu trazem resultados positivos.

O bom funcionamento de um plano não significa necessariamente que este esteja correto ou aprovado por Yaohu.





Informações gerais:

Local: Jerusalém.

Ocupação: Rei de Judá.

Familiares: Avó – Maaca; pai – Abias; filho – Josafá.

Contemporâneos: Hanani; Bem-Hadade; Zerá; Azarias e Baasa.







Versículo-chave: “Porque, quanto ao ETERNO, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com ele, nisso, pois, procedeste loucamente, porque, desde agora, haverá guerras contra ti” (2Cr 16,9).







A história de Asa é contada em 1 Reis 15,8-24 e 2 Crônicas 14 – 16. Ele também é mencionado em Jeremias 41,9; Mateus 1,7.





JOSAFÁ

Pontos fortes e êxitos:

Como um corajoso seguidor de Yaohu, lembrou ao povo os primeiros anos de seu pai, Asa.

Executou um programa nacional de educação religiosa.

Alcançou muitas vitórias militares.

Difundiu a lei de Yaohu por todo o reino.





Fraquezas e erros:

Falhou em reconhecer os resultados de suas decisões em longo prazo.

Não destruiu completamente a idolatria.

Envolveu-se com o ímpio rei Acabe, e fez com ele alianças.

Permitiu que seu filho, Jorão, se casasse com Atalia, filha de Acabe.

Tornou-se parceiro de Acazias em um malfadado empreendimento náutico.





Informações essenciais:

Local: Jerusalém.

Ocupação: Rei de Judá.

Familiares: Pai – Asa; mãe – Azuba; filho – Jorão; nora – Atalia.







Versículos-chave: “E andou nos caminhos de Asa, seu pai, e não se desviou dele, fazendo o que era reto aos olhos do ETERNO. Contudo, os altos se não tiraram, porque o povo não tinha ainda preparado o coração para com o Deus-Yaohu de seus pais” (2Cr 20,32.33).{ALTOS – RITUAIS PAGÃOS IDÓLATRAS A BAAL...}. A. E.







A história de Josafá é contada em 1 Reis 15,24 – 22,50 e 2 Crônicas 17,1 – 21,1. Ele também é mencionado em 2 Reis 3,1-14 e Joel 3,2.12.







JOÁS

Pontos fortes e êxitos:

Empreendeu grandes reformas no Templo.

Foi fiel a Yaohu enquanto Joiada viveu.





Fraquezas erros:

Permitiu que a idolatria continuasse a ser praticada por seu povo.

Usou os tesouros do Templo para subornar o rei Hazael, da Síria.

Matou Zacarias, filho de Joiada.

Permitiu que seus conselheiros desviassem o povo de Yaohu.





Lições de vida:

Um bom e esperançoso início pode ser anunciado por um final voltado para a impiedade.

O melhor conselho é ineficaz se não nos ajudar a tomar decisões sábias.

Por mais úteis ou nocivos que os outros possam ser, somos individualmente responsáveis pelo que fazemos.





Informações essenciais:

Local: Jerusalém.

Ocupação: Rei de Judá.

Familiares: Pai – Acazias; mãe – Zíbia; avó – Atalia; tia – Jeoseba; tio – Joiada. Filho – Amazias; primo – Zacarias.

Contemporâneos: Jeú e Hazael.







Versículos-chave: “Porém, depois da morte de Joiada, vieram os príncipes de Judá e prostraram-se perante o rei; e o rei os ouviu. E deixaram a Casa do ETERNO, Deus – Yaohu – de seus pais, e serviam a imagens do bosque e aos ídolos; então, veio grande ira sobre Judá e Jerusalém por causa desta sua culpa” (2Cr 24,17.18).







A história de Joás é contada em 2 Reis 11,1 – 12,21 e 2 Crônicas 22,11 – 24,27.







UZIAS

Pontos fortes e êxitos:

Agradou a Yaohu durante seus primeiros anos como rei.

Guerreiro bem sucedido e administrador competente que edificou cidades.

Hábil em organizar e delegar.

Reinou por 52 anos.



Fraquezas e erros:

Desenvolveu uma atitude orgulhosa devido ao seu grande sucesso.

Tentou cumprir os deveres dos sacerdotes, em desobediência direta a Yaohu.

Falhou em remover muitos dos símbolos da idolatria na terra.





Lições de vida:

A falta de gratidão a Yaohu pode levar ao orgulho.

Até as pessoas bem-sucedidas devem reconhecer o papel que Yaohu designa a outros.





Informações essências:

Local: Jerusalém.

Ocupação: Rei de Judá.

Familiares: Pai – Amazias; mãe – Jecolias; filho – Jotão.

Contemporâneos: Isaías; Amós; Oséias; Jeroboão; Zacarias e Azarias.







Versículos-chave: “Também fez em Jerusalém máquinas da invenção de engenheiros, que estivessem nas torres e nos cantos, para atirarem flechas e grandes pedras; e voou a sua fama até muito longe, porque foi maravilhosamente ajudado até que se tornou forte. Mas, havendo-se fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o ETERNO, seu Deus-Yaohu, porque entrou no templo do ETERNO para queimar incenso no altar do incenso” (2Cr 26,15.16).







A história de Uzias é contada em 2 Reis 15,1-7 e em 2 Crônicas 26,1-23. Ele também é mencionado em Isaías 1,1; 6,1; 7,1; Oséias 1,1; Amós 1,1; Zacarias 14,5.







MANASSÉS

Pontos fortes e êxitos:

Embora as conseqüências de seus pecados tenham sido amargas.Manassés aprendeu com elas.

Humildemente arrependeu dos seus pecados diante de Yaohu.



Fraquezas e erros:

Desafiou a autoridade de Yaohu e foi derrotado.

Inverteu muito dos efeitos positivo do governo de seu pai, Ezequias.

Sacrificou seus filhos aos ídolos.





Lições de vida:

Yaohu percorrerá um longo caminho par conseguir a atenção de alguém.

O perdão é limitado não pela quantidade de pecados, mas por nossa disposição ao arrependimento.





Informações essenciais:

Local: Jerusalém.

Ocupação: Rei de Judá.

Familiares: Pai – Ezequias; mãe – Hefzibá; filho – Amom.







Versículos-chave: “E ele, angustiado, orou deveras ao ETERNO, seu Deus-Yaohu, e humilhou-se muito perante a Yaohu – Deus de seus pais, e lhe fez oração, e Yaohu se aplacou para com ele e ouviu a sua súplica, e o tornou a trazer a Jerusalém, ao seu reino; então, reconheceu Manassés que o ETERNO é Deus-Yaohu” (2Cr 33,12.13).







A história de Manassés é contada em 2 Reis 21,1-18 e 2 Crônicas 32,33 – 33,20. Ele também é mencionado em Jeremias 15,4.

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